segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Fatal (Conto)

Fatal


   Um calor leve que se esvai a cada brisa da noite faz um contraste com um frio na minha barriga, um vento gélido vindo do lado do mar me causa um arrepio, sinto meu braço esquerdo pesar quando me lembro da Magnum .44 na minha bolsa de mão prateada, não muito grande que chame atenção ou tão pequena que não caiba um revolver.
   Desfilando em cada passo na calçada em um vestidinho tomara que caia vermelho de festa, acentuando bem cada curva do meu corpo. Cabelo castanho enrolado solto ao vento. Sinto cada sensação da noite, o terrível odor de drogas em corpos podres; o som de algum casal discutindo, cada alteração do clima fundido ao mar em horripilantes e mórbidas sensações. Minha cidade, antes calorosa e cheia de vida, hoje só transpira morte e horrores.
   Sinto cada olhar malicioso sobre mim quando passo por um bar, alguns gracejos e risos, normalmente teria medo, mas hoje não. Tenho certeza de ouvir “gostosa” “delícia” ou qualquer coisa do tipo, não me movo nem um centímetro se quer do meu objetivo, era exatamente o que pretendia; causar, ótimo! Olho no meu reloginho de pulso prateado combinando com minha bolsinha, são 22:47hs.
   Próximo ao meu objetivo sinto um receio crescente subir pela minha espinha e rasgar meu peito, até se tornar um medo palpável subindo pela minha garganta, é como se meus temores se personificassem e me esganasse tentando me fazer parar, sinto todos os meus músculos tremerem e meu coração disparado. Não, ataque de pânico não, hoje não! Tanto psicólogos e tratamentos, tantos calmantes e noites sem dormir, com pavor da minha própria sombra. Levo quinze minutos para me recompor.
   Ao chegar a um dos mais belos e imponentes prédios do bairro, olho a guarita com vidros fumê, bato no vidro até uma cara redonda com cara de sono aparecer numa pequena janela que se abriu.
Boa noite, tudo bem? pergunto com um belo sorriso no rosto.  Aqui é o Residencial New York City?
Boa noite, é sim, posso ajudar?  responde o vigia noturno esfregando o rosto.
Bem, eu vim fazer uma visita ao Pedro do 308.
A esta hora? São 11:00 horas da noite.
Eu garanto que o Pedrinho não vai reclamar do horário.
   Inclinando a cabeça para me ver melhor, ele passa seus olhos pelo meu corpo e seu semblante mau humorado vai mudando até se tornar num sorrisinho de canto de boca. O homem recolhe a cabeça depois de admirar o meu corpo, me sinto nojenta, mas é um mal necessário.
Eu vou ligar no apartamento dele, para autorizar sua entrada.
Não, espera! Ele não sabe que eu estou vindo aqui hoje  faço um trejeito de sem graça eu quero lhe fazer uma surpresa.
Me desculpe, mas não posso liberar a entrada de alguém sem que o morador me autorize.
Eu entendo, mas não dá pra abrir uma exceçãozinha? Digo com uma voz de dengo Ninguém vai saber.
Normas são normas, sabe? Eu prefiro evitar problemas.
Ah vamos...  derreto ainda mais a minha voz eu posso lhe adiantar um pouco do que vou dar para Pedro.  Dou uma mordidinha nos lábios. Eu o sinto tremer de onde estou e percebo algumas gotas de suor escorrer no seu rosto, que agora está se deliciando com a ideia, sem mais ele abre o portão automático.
                Ao entrar, a porta da guarita já está aberta, eu o vejo sentado numa cadeira meio nervoso. Aproximo-me e sento no seu colo de frente pra ele. Passo minha mão pelo seu grande corpo o excitando, passo os meus braços pelo seu pescoço e aproximo minha boca de sua garganta. Ele delira e geme.
   Por trás de sua cabeça, pego uma seringa da minha bolsa sem que perceba, lhe dou mordiscadas no lado direito do pescoço, mordo mais forte no momento em que eu lhe aplico a injeção, ele faz uma expressão de dor e prazer. Um pouco mais e o sonífero começa fazer efeito e ele cai num sono profundo. Levanto e me ajeito, ao sair não posso evitar um sorrisinho perverso.
   No elevador indo à cobertura, em direção ao homem que destruiu a minha vida. Osvaldo Boaventura Jr, filho do juiz federal Osvaldo Boaventura. Ainda lembro-me da noite em que ele me violentou, como se eu fosse um objeto, me senti podre, não só me usou, como também me surrou e humilhou, faz mais de um ano e nunca foi preso, as provas e testemunhas sumiram, o seu pai usou toda sua influência para livrar sua cara, mal consegui acreditar quando me ofereceu dinheiro para retirar a queixa e quando não aceitei ainda me ameaçou. Maldito miserável...
   Dono de um andar inteiro; sempre odiei o fato de viver tão bem e continuar se safando a cada novo julgamento, mas hoje eu agradeço, pois nenhum vizinho vai conseguir ouvir o que vai acontecer. Meu coração quase pula no peito quando chego a sua porta, respiro fundo, olho no relógio 00:15hs, toco a campainha, tento manter a calma.
Afinal, quem pode ser uma hora dessas?!Abre a porta resmungando.
   Seu semblante muda no momento que põe os olhos em mim, encaro a face do monstro, escondido sob uma pele branca e olhos azuis aqua, seu cabelo desgrenhado preto, vestido um short azul e uma camiseta branca. Mostra seus dentes bem cuidados e faz uma expressão de que nem comeu e já gostou. Uma peruca, uma roupa exuberante, lentes de contato e uma boa maquiagem me deixaram irreconhecível.
Lembra-se de mim? Pergunto ao desgraçado com uma voz suave e sensual.
Ele aperta os olhos tentando me reconhecer e arrisca um nome.
Lorena? responde com um jeito que vai receber uma patada de volta.
Isso! lhe dou um sorrisinho (um nome não faz diferença). Posso entrar?
   Ele me puxa com força pelo braço e bate a porta, sem fazer média.
Com certeza... fala e me beija passando a mão com vontade pelo meu corpo. Com toda arrogância de quem sempre consegue o que quer. O tipo de homem que é capaz de estuprar uma mulher quando ela lhe diz NÃO.
   Sinto-me podre outra vez, tenho um nojo nauseante de tudo aquilo e toda aquela sensação de impotência e medo tentam retornar por um instante. Tenho vontade de empurra-lo e bater em sua cabeça até ver seu miolo escorrendo, me esforço para manter o personagem e sigo o fluxo.
   Ao ser arrastada pela sala, eu o empurro e ele cai sentado no sofá, atiro minha bolsinha ao lado dele, enquanto sento no seu colo, de frente pra ele, eu o beijo enquanto tateio e pego um revolver prateado com um cabo de madeira, tão absorto ele nem percebe.
   Quando está mais excitado e louco de prazer, eu paro de beijá-lo e o encaro.
Você realmente se lembra de mim?
Ora, é claro.
De onde?
Lá daquela boate...?
Talvez isso refresque a sua memória.  eu arranco a peruca e a touca, deixando meus cabelos loiros cair sobre meus ombros. Ele demora um pouco pra entender, mas enfim percebe quem sou, ver meu rosto e meus cabelos em tantas audiências... Ele tenta me empurrar, mas é tarde, uma Magnum .44 explode no seu colo destruindo seus testículos com toda sua fúria.
    No susto e no movimento ele me empurra do seu colo urrando de dor, com a mão no seu órgão repugnante que agora jorra sangue, eu logo me levanto apreciando sua expressão de sofrimento, ele me insulta, eu rio.
   Continuo observando, ando ao seu redor como uma leoa sobre sua caça, penso em várias coisas pra dizer, mas não me escapa uma palavra, disparo mais quatro tiros sobre seu peito, braços e pernas, e ele grita ainda mais, tenta pedir socorro, arquejando, nunca achei que seria tão terrível e satisfatório, eu vejo a vida o deixando cada vez mais, quero o deixar para morrer agonizando, mas deixei a última bala para este precioso momento, ele me olha, com uma olhar de pavor, raiva e dor, encosto o cano quente em sua testa, vivo o momento e quase sem sentir eu ouço o último disparo. 


Deixem seus comentários dizendo o que achou, esse Conto é o que vai originar meu primeiro Romance.

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